Como falei no
último post, comecei a falar em inglês com meu filho em casa quando ele tinha 2 anos e 5 meses. Antes desse dia, eu não tinha chegado a ensinar nenhuma palavra em inglês para ele, nem os números. Na verdade, quando ele assistia vídeos no Youtube, por exemplo, lembro que eu evitava passar vídeos em inglês porque sabia que ele não iria entender... que mudança de comportamento tivemos!
Antes de começar
Antes de começar de verdade (mas ainda no mesmo dia), pesquisei rapidamente na Internet sobre o assunto e descobri que existem alguns métodos bem conhecidos que os pais utilizam em famílias bilíngues. Estou me referindo ao One Parent One Language (OPOL) e ao Minotiry Language at Home (mL@Home), dentre outros. Para escolher um desses métodos, é importante analisar o contexto familiar, os idiomas que os pais sabem falar, etc. Vou fazer um post somente sobre esse assunto, mas aqui resumo que eu e minha esposa Carol escolhemos usar OPOL de modo que ela vai falar apenas em português com Renan e eu apenas em inglês.
Primeiro dia
Então, como começamos a falar? Brincando, claro! O melhor que vejo em ser bilíngue em casa é justamente termos um ambiente bem descontraído em que o idioma é apenas uma ferramenta, um meio de se atingir o fim (brincar, comer, etc.), e não um fim em si. Dessa maneiro, levei Renan para seu quarto e comecei a procurar por algum brinquedo que tivesse muitas cores, pois achei interessante começar por aí. No caso, peguei um dos brinquedos dele (
Uno Muu) e começamos a brincar. Como eu falei, qualquer brinquedo ou objeto serve para iniciar, afinal, será apenas uma conversa normal entre pai e filho.
Agrupei os animais de mesmas cores em cada lado e comecei a repetir o nome das cores (no caso,
red, yellow, blue e
green). Renan não repetia comigo, mas dava pra notar que ele ficou muito curioso. Ao pedir para ele pegar os animais quando eu falava as cores, percebi que já tinha entendido a dinâmica. Logo em seguida, passei a agrupar os animais pela espécie e chamá-los:
sheep (ovelha),
cow (vaca),
dog (cachorro),
chicken (frango/galinha),
pig (porco),
skunk (gambá)
e
boy (menino). Por fim, abri a portinha da casinha vermelha da fazenda (o celeiro,
barn, em inglês) e ia dizendo "
red dog", e então Renan colocava o cachorro vermelho dentro do celeiro. "
Yellow chicken", e ele colovaca a galinha amarela e assim por diante, até ele colocar todas as 28 pecinhas! Claro que bastava ele reconhecer a cor ou animal e ainda tinha minha ajuda nos casos de dificuldade, mas mesmo assim.
Usei as palavras
it,
a,
an,
the e todo o verbo
to be sem grandes explicações de modo que ele pegou o significado pelo contexto. E foi assim o primeiro dia (na verdade, primeira noite).
Me lembro muito bem desse dia e me impressionou como ele aprendia tão rapidamente! Isso foi um ponto muito motivador, pois em poucos dias eu já conseguia me comunicar bastante com ele.
Dias seguintes
Nos outros dias, lembro-me que quando havia uma palavra nova, muitas vezes eu traduzia para o português da seguinte maneira: "
Look, Renan! It's a shower! Chuveiro!
Shower!". Fiz isso para garantir que ele iria entender o que eu estou falando. Às vezes, não era necessário que eu traduzisse em português, pois Renan mesmo já falava:"Renan,
what's behind the box?", ele respondia: "a bola", então eu dizia: "
The ball, the ball, that's right!".
Durante os primeiros meses, eu sempre introduzia uma nova palavra em inglês com sua devida tradução no português, para ele entender imediatamente. Isso foi muito útil inclusive nos momentos que eu precisava orientar sobre perigos: "
Don't do it, you can get hurt. Machucar.
Get hurt.
It's too high!". No entanto, percebi que ele ficou "viciado" em sempre ter uma tradução para as palavras do inglês, de modo que ele não conseguia aprender uma nova palavra em inglês sem ficar sabendo em português: fazia questão de perguntar.
Depois de alguns meses, consegui que ele adquirisse um vocabulário maior e com isso comecei a conseguir explicar novas palavras e expressões utilizando o próprio inglês (com sinônimos ou explicações descritivas). Muitas vezes, eu me deparava na situação de não saber que palavra usar em determinada situação, daí
sempre recorro ao meu dicionário de bolso, meu celular!
Consistência
Os livros, sites, a literatura sempre afirmam que é muito importante manter a consistência (falar apenas inglês em todo lugar, ou falar sempre inglês em casa, ou outra regra qualquer). Minha esposa até estranhou porque eu estava falando em inglês mesmo em horas mais críticas (como nos momentos de repreender ou quando ele acaba de se machucar e está chorando). Mas isso é justamente para manter a consistência
: se eu ficar alternando entre português e inglês vai dar brecha inclusive para Renan ficar solicitando que eu fale em um idioma ou outro quando ele quiser (pois ele vai perceber que há essa opção). Já que eu só falo em inglês com ele, por mais que continue a falar em português com minha esposa, mesmo assim ele nunca pediu para eu voltar a falar em português com ele (embora já tenha dito: "como é em portugues?" para que eu traduza uma palavra em inglês que eu tenha acabado de falar).